domingo, 1 de julho de 2007

O HOMEM QUE SILENCIAVA


Ele era um ser assexuado. Não lhe corria sangue nas veias, nem lhe transpirava desejo pelos poros do corpo. Era apenas um pequeno e notável menino crescido. Viam se nele apenas olhos e ouvidos. A boca só se mexia para comer. Do contrario, ficava em silêncio. Gostavam do seu silêncio. Gostavam de seus ouvidos. Belos depósitos de lixo
- É amor...
- É Trabalho...
- È uma amizade colorida...
- È dinheiro...
A tudo ele escutava em silêncio. Não transmitia uma opinião. Achava feia a sua voz e achava ridículos seus pensamentos. Preferia ouvir. Mas nunca aprendia. Nada filtrava. Nada absorvia. Apenas escutava.
E o que ele escutava para que servia? Ninguém sabia. Mas aos outros essa sua qualidade ajudava. Ele nem se importava. Nada o comovia ou simplesmente o amedrontava
Era tudo um grande nada. Ele não se achava um nada porque sabia ouvir. E ouvir num mundo onde pessoas falavam era uma qualidade admirável. Para quem? Para os outros. Que falassem, que ele ouvisse.
Assim passava os dias e os anos. Ele ouvia, o que importava?
Até que um dia inesperadamente ele acordou surdo e as pessoas não mais o procuravam. Não mais o queriam. Dessa vez ele se importou, dessa vez ele disse:
- Eu ainda falo!
E as pessoas não o ouviram
NR (ESCRITA EM JUNHO DE 2007, É MINHA PRIMEIRA CRÔNICA, OS BONS ESCRITORES QUE IRRELEVEM)

Um comentário:

deyvid F. disse...

noossa

Q texto, filho

Criativo - sério - Gostei

pra caramba


Obs.: tem algo de biografico isso tudo??
bem

lambidinhas